segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Circuito Aberto Onírico

     

          Flutuo sobre as águas oníricas com o auxílio dos meus chinelos, feitos de platina reluzente. Canso-me de bancar o senhor de uma religião arcaica e incoerente, e evoco, através dos poderes inerentes à minha psique, o vaso repleto de vacuidade, que gira, entorta, dinamiza e dizima a água. Escuridão, pensamentos aleatórios cerceiam a expansão da supra-consciência. Foco-me no silêncio. “Acordar, trabalhar, escovar, banhar”, NÃO! Digo não à inquieta mente e atravessando uma cortina de vapor d’água (fria ou quente), insiro-me em um novo sonho. Meados do século XIII, meus longos e enegrecidos cabelos são penteados por uma serva; meu amante transubstancia-se nessa realidade mais fluida, usando nada mais que uma cueca! As outras partes de seu inventário foram removidas devido ao ardente desejo feminino que derretia em um tom verde-sáfira bemol.

– Você deseja destrancar as portas do inconsciente? – ele me pergunta, mostrando um molho de chaves.

– Já é hora! – Respondo-lhe.

Conjuro e crio através da insubstancialidade onírica um relógio que aponta somente o momento presente! Zazen. O tiquetaquear do AGORA me domina como um mantra antigo e sagrado. Revolução! Os pontos vazios vão surgindo e sugerindo que eu volte ao mundo real. “Comer, fumar, ler, beber, dirigir”. NÃO! “Beber, fumar, trabalhar, escrever, telefonar!”. Grito e não acordo. Ainda não é hora de voltar àquela realidade menos fluida. Permito-me reconstruir algum cenário qualquer como um pintor sobre o cavalete. A nova imagem me traz a impressão de que sou um exímio cinematógrafo, que risca a lousa do sonho através da caneta repleta de lucidez. Desenho no ar, novamente, um vaso: É meu querer não-absoluto pela vacuidade. Sou sugado e transposto rapidamente para o interior de um táxi, cujo motorista, um homem dracônico, interpela-me:

– Quais os seus desejos?

– Não desejo nem mesmo o não-desejar! – Respondo-lhe enquanto meu terceiro olho vibra e cintila.

– Não gostaria de saborear as mais deliciosas iguarias, fumar o tabaco mais refinado ou o descanso harmonioso de uma noite pós-trabalho. Quem sabe a poltrona mais aconchegante ou o televisor mais condicionante? – Ele me intriga.

– Vil lagarto! Oferece-me tudo com as duas mãos, mas pretende engolir-me a liberdade! Não! Não desejo ser um cárcere de minhas próprias ilusões!

Escuridão e Luz! Acordo na terrestre realidade, envolto em meus cobertores e deitado na cama enquanto a cabeça repousa um pouco mais sobre o travesseiro.

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